É simplesmente impressionante a história desse homem cujo sonho ajudou a construir uma nação. Certa vez, ele disse: “Nada é importante a menos que para o progresso desse sonho”. Em outra ocasião afirmou: “Em nossa ressurreição fomos inspirados pela nossa Bíblia e pelas tradições de nossa antiga história”. Essa é a história de David Grün, nascido na Polônia, que era então parte do Império Russo. Seu pai, Avigdor Grün, foi um advogado e um líder no movimento Hovevei Zion. Sua mãe, Scheindel, morreu quando ele tinha 11 anos. Quando estudava na Universidade de Varsóvia, ingressou no movimento marxista Poale Zion, em 1904. Foi preso duas vezes durante a Revolução Russa de 1905. Chocado pelo antisemitismo exacerbado que atormentava a vida judaica no Leste Europeu, tornou-se um apaixonado sionista e socialista e imigrou para a Palestina em 1906, à época sob o controle do Império Otomano. Ali tornou-se um importante líder da Poale Zion junto com Yitzhak Ben-Zvi. Vale lembrar que Sionismo vem de Sião (Sion, Zion) que é o nome de um monte nos arredores de Jerusalém. Esse movimento político defende o direito à autodeterminação do povo judeu e à existência de um Estado Judaico, por isso sendo também chamado de nacionalismo judaico.
David Grün foi, sucessivamente, um agitador trabalhista que organizou o exército mais eficiente do mundo; um velho advogado que abandonou sua banca para se tornar um trabalhador braçal nos campos da Palestina vindo a ser primeiro-ministro; um liberal generoso, mas capaz de defender seu povo com unhas e dentes. Era um homem raro que acreditava na justiça. Mais que um estadista, ele era um profeta moderno, um visionário persistente como aqueles encontrados na Bíblia. David Grün, mais conhecido como David Ben Gurion, nome que em hebraico significa “o filho do leão”, entrou para as páginas da história como o fundador do Estado de Israel. Talvez o que mais nos impressione, é a grande lição de amor e perseverança desse líder que, aos 70 anos, se lançou no projeto de erguer em Israel, um exemplo para o mundo, uma nação sem distinção de classes, sem discriminação, realizando o sonho dos antigos profetas de Israel. Aqui temos, então, alguns capítulos dessa incrível história.
Ben Gurion nasceu na Polônia em 1886. Já nos tempos de escola, o jovem David era um rebelde e dizia aos colegas que, um dia, seria o líder de um novo Israel. Aos 15 anos já era um organizador do movimento sionista, um dedicado grupo que visava fazer um lar para os judeus na Palestina. Aos 20 anos, David Grün vai para a Palestina, que era controlada pela Turquia. Por 5 anos ele trabalha como lavrador nas agrovilas.
Em 1910, ele passa a fazer parte da revista Unidade, órgão do novo movimento sionista. Nessa época, começa a escrever editoriais e assina com o nome hebreu David Ben Gurion (Davi, filho do leão).
Durante a 1ª Guerra Mundial, o governo turco exila Ben Gurion, acusando-o de agitador. Passando a viver em Nova Iorque em 1915, conheceu sua futura mulher, Paula Munweis, nascida na Rússia. Casaram-se em 1917 e tiveram três filhos. Em novembro de 1918, a guerra acaba. A Turquia, aliada da Alemanha, perde o controle sobre a Palestina. A Liga das Nações (a ONU só foi criada em 1945) expede um mandado e entrega o comando da Palestina ao governo britânico. Assim, a família de Ben Gurion regressou à Palestina.
Os judeus se regozijam. Todos confiam que este seja o primeiro passo para o tão almejado estabelecimento do Estado de Israel. Ben Gurion, o líder sionista, correu o mundo convocando os judeus para se estabelecerem na terra de Davi, terra de sagrada herança. O maior problema para os judeus era o fato da população árabe ser infinitamente superior à judia na Palestina. Todas as propostas separatistas dos ingleses eram rejeitadas pelos árabes, que prometiam expulsar os judeus da Palestina. Vale dizer que muitos judeus foram mortos em suas vilas por guerreiros árabes. Por isso, Ben Gurion lidera um movimento para recrutar uma força subterrânea, um exército secreto judeu (os Hagana) que contragolpearia os árabes. As cidades de Israel se tornaram praças de guerra e, por mais de uma década, esses horrores prosseguiram.
Em 1939, o governo britânico senciona um decreto que limitava todas as futuras imigrações judaicas a 75 mil pessoas. Além desse total, nenhuma pessoa seria admitida sem aprovação prévia. Entretanto, o povo judeu enfrentava o pavor de ser perseguido por Hitler. Enquanto que milhões de judeus alemães eram arrebanhados para campos de concentração, Ben Gurion debate com o governo inglês, solicitando a abertura da Palestina aos judeus. Ele sabia que, se falhasse, milhões de judeus seriam exterminados. Os apelos não foram atendidos e o decreto continuou prestigiado.
Em setembro de 1939, enquanto tem-se o início da 2ª Grande Guerra, Ben Gurion declara: “Combateremos o Decreto Branco como se não houvesse guerra; e a guerra como se não houvesse o decreto”. Ben Gurion forma o Batalhão Judeu e entra em ação na Itália, ombro a ombro com as forças inglesas. Na primavera de 1945, após 5 anos de lutas, os poderes nazistas estão batidos. Por toda a Europa, vivendo em campos de miséria, os pobres remanescentes do povo judeu aguardam. Eles desejam buscar meios de reconstruir suas vidas. Ben Gurion intercede junto ao governo britânico para que este admita a entrada de refugiados na Palestina. Israel precisava se tornar um estado independente ao qual todos os judeus pudessem chegar, mas a Inglaterra se recusava a aceitar emendas no Decreto Branco e vedava a Palestina aos judeus. Então, as lideranças da força secreta dos judeus decidiram levar judeus ilegalmente à Palestina durante a noite, usando diversos navios. Uma dessas tentativas acabou em tragédia, quando o navio Exodus, trazendo refugiados judeus da Europa foi bombardeado pela patrulha inglesa. A Hagana usava navios cargueiros mercantes para transportar os judeus. Os judeus dos navios interceptados pelos ingleses eram internados em campos do Chipre. Muitas vezes, quando eram descobertos, os judeus exibiam as cores da sua terra e entoavam as antigas canções de seu povo. Às vezes, no porto de Haifa, tinham um rápido contato visual com terra prometida, sem que pudessem pisar nela.
Em 1948, após 3 anos de incerteza e inquietação, o futuro de Israel é traçado pelas Nações Unidas. O poder britânico sobre a Patestina tem seu fim. Em Tel Aviv, no dia mais vitorioso de sua vida, Ben Gurion lê a proclamação que o povo esperava há mais de 2000 anos. Assim, o Estado de Israel passava a existir. Houve muita festa e, em meio às comemorações, ninguém se dá conta dos bombardeios que viriam do Egito. Em 15 de maio de 1948, os exércitos unidos das nações árabes, comandados pelas legiões árabes treinadas pelos ingleses, atacam Israel, a nação criança. Os árabes tinham a certeza que venceriam essa guerra muito rapidamente. A Hagana, numericamente inferiorizada, luta desesperadamente mas Jerusalém fica cercada pelos árabes. Ben Gurion seguiu afirmando que continuava crendo em milagres. Este recrutou uma nova força de combate, chamada por muitos de “exército de maltrapilhos”, que enfrentou o inimigo com audácia em Jerusalém e no resto de Israel. De forma surpreendente, o exército judeu fez recuar a legião árabe. Depois de 7 meses, o milagre de Ben Gurion estava realizado: o Egito pede a paz e a luta termina. Então, os portais dos campos do Chipre foram abertos e dezenas de milhares de judeus voltaram para Israel.
A primeira eleição livre foi realizada e Ben Gurion é eleito primeiro-ministro. O Dr.Chaim Azriel Weizmann, químico, cientista e estadista, foi o primeiro presidente do Estado de Israel. Em 11 de maio de 1949, Israel é formalmente admitido nas Nações Unidas. Apenas as nações árabes (entre elas Síria, Iraque e Egito) se recusaram a reconhecer a nova nação.
Em 1951, Ben Gurion faz uma viagem oficial aos Estados Unidos e é recebido em Washington pelo presidente Harry Truman. Em Nova Iorque é tratado como herói.
Em 1953, alegando cansaço, David Ben Gurion renuncia ao cargo de primeiro-ministro e inicia seu retiro em uma fazenda no deserto de Neguev. Mas a sua história de lutas não terminaria assim.
Em 1955, após um reforço das legiões árabes, o Egito se preparou para atacar Israel. Ben Gurion foi convocado a assumir novamente o posto de primeiro-ministro e, aos 70 anos, aceitou o novo desafio. Em 29 de outubro de 1956, tropas israelenses invadiram o Egito, dominaram a faixa de Gaza e a península do Sinai, chegando até o canal de Suez. O exército egípcio foi destruído. O mundo ficou contra Israel e a ONU pediu a retirada imediata de todas as tropas israelenses, garantindo grupos de soldados para vigiarem a fronteira com o Egito.
Em 1958, Ben Gurion celebra com o povo os 10 anos da independência de Israel.
Em junho de 1970, aos 84 anos, ele deixa seu cargo de deputado.
O grande David Ben Gurion, o profeta moderno, o Davi filho do leão, faleceu em 2 de dezembro de 1973.
Fontes:
1)Documentário “A Formação do Estado de Israel”, produzido pela TVE/MEC. Série: História de quem faz a História.